6 de dezembro de 2017

Natal


Tenho uma relação muito (estranhamente) chegada com três pessoas da minha família: a minha irmã mais velha, mãe e tia. Quatro irmãs, portanto. E é mais isso que parece. Como a minha tia e a minha mãe estão divorciadas e a minha irmã também solteira, temos algum tempo para estarmos juntas e fazer coisas giras juntas. Elas é clube de leitura, viagens no estrangeiro só as quatro, lanches quando apetece, entre outras coisas.
Desta vez a ideia foi calendário do advento com pequenas tarefas natalícias para todas. Demos umas ideias e lá se escreveram 25 papéis para cada um dos dias até ao Natal. A tarefa de hoje é escrever um texto ou poema sobre o Natal, portanto cá estou eu.

Tenho um vídeo de uma consoada há muitos muitos anos atrás, gravado numa daquelas cassetes pequeninas que ainda se rodavam com a ponta da caneta. Adoro esse vídeo de Natal. É uma memória que não tenho em mim, mas que tenho oportunidade de revisitar ao ver o vídeo. Ver os meus pais juntos é surreal; ver-me em bebé é único - olhar para mim e poder dizer sobre mim mesma "que coisa mais fofa!!" -; ver a minha irmã super compenetrada na sua tarefa de desembrulhar presentes e perceber minuciosamente o que cada um era; ver as caras de todos a olharem para nós, a chamarem o nosso nome (num género de eco bonito que ressoa até ao presente), apenas felizes e entretidos porque nós também estávamos. Tive a sorte que muitos não tiveram: uma infância encantadora. Com acesso a tudo: brinquedos, educação, apoio, amor.
Hoje, pouco ou nada mudou. Continuo a ter a sorte que muitos não têm e mais um bocadinho. E no Natal e fora dele, a primeira coisa que me surge é agradecer. Foram-me dadas todas as oportunidades na vida, nasci uma privilegiada em tudo. Obrigada.
Mas há que dizer: se o Natal é família, se é amor, eu não sei se alguma vez vou ter um Natal em que não me sinta incompleta. Para já divido-o entre "a parte da mãe" e a "parte do pai" - onde quer que eu esteja falta sempre alguém e o meu namorado para já também não o passa comigo. Quando também ele for uma prioridade de ponto assente, vou ter de fazer algo que nunca me ocorreu: dividir o Natal entre estar com a minha irmã e não estar. E só este pensamento arrepia-me a espinha. Pois apesar de ainda hoje sermos cão e gato, ela esteve sempre lá. Este vai ser o 24º Natal, desde que me conheço como gente, que ela esteve sempre lá comigo, acontecesse o que acontecesse, mudasse o que mudasse. E depois de todos estes anos inseparáveis, sabe um bocadinho a azedo que a mudança seja eu.
E é isto. O Natal é lindo, adoro o Natal. Mas não sei se algum dia vai deixar de ter este saborzinho a triste. E nisto acredito que tive a sorte de muitos: o Natal também é altura de sentir falta de quem não está.

Cisne

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