Eu sei que tu disseste coisas maravilhosas - mas eu não me lembro delas.
Eu sei que tu inspiraste pessoas - mas eu não me lembro quem.
Fico atónita com as coisas que me dizem sobre mim. Não porque eu não as saiba, mas porque eu não me lembro.
Um carta de amor para mim? Qual mim? Aquele que sabe o quanto é genuína, honesta, amável, boa bailarina, boa professora? Ou aquele que se lembra das mentiras que disse, das pessoas que já magoou, das audições que não passou, dos alunos que não conquistou?
Dizem que só há uma de mim, o que tem toda a lógica. Mas eu só consigo amar a parte de mim que se lembra também dos meus sucessos. A que não me martiriza todos os dias com medos e inseguranças.
Para essa outra parte eu sei que também deveria escrever uma carta... Eu sei... Eu sei que aliás é a parte mais importante. Mas escrever uma carta a agradecer eu ser assim, hoje não é possível. Pelo menos ainda não. Não consigo ainda estar grata por ser assim.
Cisne