23 de abril de 2011

Eu sussurro


"Amor, Amore, Love, Amour, Liebe

O Amor em Portugal é um sopro ou um segredo, mas nunca é um grito. Os portugueses escondem a palavra "Amor" debaixo da língua ou atrás dos dentes como se tivessem vergonha de a soltar e, não vá ela morder alguém, quando a deixam vir cá fora espreitar amordaçam-na com o acento circunflexo (ô) que está lá mesmo sem estar.
Já os ingleses dizem "Love" como quem vai beber uma Pint a um pub, o que torna a palavra um tanto ou quanto banal. Aplicam o "Love" tanto a uma pessoa como a um objecto qualquer. Se uma inglesa me disser "I Love you" alguma vez na vida, ficarei sempre na dúvida se ela me ama ou se me quer comprar. A palavra "Love" não se esconde como a palavra "Amor", mas circula de boca em boca como um bêbado solitário o faz nas ruas de Londres: sem dar cavaco a ninguém.
É por isso que gosto da Itália, onde "Amore" é tão grande que é difícil escondê-la onde quer que seja, quanto mais num canto da boca ou atrás dos dentes. O "Amore" é aberto e confirma-se sempre com o "Io te voglio tanto bene" para que não restem dúvidas e para que a coisa venha com garra.
A garra, precisamente, é o que falta aos franceses. O "Amour" nunca vem só, é servido numa taça com champanhe, flores e caviar como se só pudéssemos ter o seu usufruto se lavássemos primeiro as mãos e nos vestíssemos apropriadamente. Exactamente o contrário dos alemães, cujo "Liebe" parece ter tesão para pouco mais de cinco minutos.
A forma como se diz "Amor" quer dizer tudo sobre um povo, e se é verdade que nós não somos capazes de gritar como os italianos, não nos queremos vulgarizar como os ingleses, não somos de floreados como os franceses nem martelamos como os alemães, também é verdade que segredamos como ninguém.
O nosso "Amor" é assim, um segredo que vagueia entre a louca nudez de um dia de Verão e a tristeza momentânea de um dia de chuva. Somos assim. Eu sou assim. De facto tenho orgulho nisso, num Amor que é  tão saboroso quanto melancólico e que só se dá quando os lábios se aproximam do ouvido e dizem: "Eu Amo-te!". "

Este texto foi retirado do blog do bagaço amarelo. Não sei se concordo com o que ele diz acerca das diferentes maneiras que as diferentes pessoas, provenientes de diferentes culturas, têm de dizer «amo-te». Não sei porque não conheço e acho que fazer um estereótipo com base no que «se diz por aí» é um pouco errado.

Portanto, prefiro concordar com a parte que sublinhei, no fim. É assim que eu penso e é assim que tem mais significado para mim; sempre foi. Para mim, não há maneira mais apaixonada e devota de dizer tamanha palavra, conotada de um enorme significado que talvez só a língua inglesa vulgarize. Não é a intensidade de um grito que quantifica a intensidade do sentimento, nem o contrário. Para mim é mais como se a maneira como se ama, é a maneira como se diz. E se eu sussurro, sussurro como o coração sussurra. Quase sem se ouvir ele expressa-se só para quem está disposto e atento o suficiente para ouvir.

Mas isto é só a minha maneira de amar. Cada um tem a sua e não acho que tal seja típico de uma cultura ou região...


Cisne.

2 comentários:

LA disse...

Realmente nunca tinha pensado nisto desta forma, mas realmente é verdade... E tenho pena que não se possa usar mais vezes a palavra 'amor' nas nossas vidas, exactamente por as pessoas terem medo de a proferir :P

Beijinhoo *

Cisne disse...

O poder ou não está em nós ;)

Cisne.

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