25 de março de 2015

Esconder-me dentro de mim


Tenho saudades de Barcelona. Muitas mesmo. Mais do que da cidade, tenho saudades da pessoa em que me tornei lá. Era tão forte, era intocável... Tenho muitas saudades de ser esse eu. O eu que tinha saudades, que tinha dificuldades, que tinha problemas mas que lidava com eles, que os resolvia bem. Nestes dias tenho tantas saudades do L. Porque me lembro bem de como me sentia com ele, de como eu era diferente. Era mesmo intocável. Se existirem almas gémeas, sei que ele era a minha. E sei que ele me compreendia melhor que ninguém. Que ele não só percebia o que eu dizia, que ele o sentia.


Voltei de Barcelona outra pessoa. Hoje apenas mantenho a cor de cabelo, com que voltei. E mesmo essa aos meus olhos perdeu brilho. O meu corpo está todo doente, fisicamente e mentalmente. O meu cabelo está fraco e perdeu os caracóis, estou branca como a cal, tenho frio a toda a hora e dores de velha. Não me sinto bem no meu corpo e há dias em que o sofrimento que esta depressão me traz é tanto que não quero sair da cama. Que só queria desaparecer fisicamente deste mundo. Contraio-me toda dentro dos lençóis numa ilusão esquisita de que se o fizer com força consigo esconder-me dentro de mim mesma. Acho que esta ideia só percebe quem tem ou teve uma depressão.

Odeio vir aqui falar de coisas más quando há tantas coisas bonitas na minha vida. Odeio os meus dias maus, os dias em que só quero não ter responsabilidades nem obrigações, em que não existir seria o ideal, os dias em que, na verdade, não percebo a minha existência. Odeio questionar a grande dádiva que é viver neste mundo.

Gostava de recuperar a energia com que vim de Barcelona. Vim com a sensação de que podia agarrar o mundo só com os meus dois braços, que um dia faria a diferença, que as minhas ideias haviam de tomar um caminho e havia de se tornar em qualquer coisa. Vim com a sensação de que eu podia e devia fazer a diferença só com a minha vida. Que tinha qualquer coisa para dar.


Nestes dias sinto que só tenho tristeza, que é só isso que carrego, todos os dias comigo. Que o único momento bom do meu dia é quando durmo, que é quando estou noutro mundo em que não preciso de decidir nada, que tudo acontece sem o meu aval mesmo que eu própria esteja lá dentro.

Sim, é por isso que gosto tanto de sonhar. Porque durante aquelas horas, naquelas histórias sem sentido, sou outra pessoa. Se calhar até sou a mesma, mas não sou a pessoa que se define como aquela que carrega um peso maior que o seu próprio, maior do que aquele que pode suportar.

No outro dia alguém me disse que o ser humano consegue suportar até metade do seu próprio peso. Então não sei que raio de humano sou eu. Já mal me consigo carregar a mim mesma.

Cisne

3 comentários:

O sonhador disse...

Aproveita que está a começar a primavera. Deixa o sol entrar.

Vai subindo um degrau de cada vez, a seu tempo. As ideias não são uma coisa eterna, adaptam-se. Só tens de encontrar uma maneira de adaptar as tuas, para continuarem a ser algo que te faça sentir bem. No teu mundo mandas tu, mas sempre com a ginástica de dividires este universo com os mundos dos outros.

Aguentas o teu peso e muito mais, estás só a precisar de endireitar essas "costas". Gere o teu tempo e no meio das causas mais difíceis enfia umas mais fáceis de realizar, que te vão motivar para continuares em frente.

Desculpa a intromissão, mas não gosto de ver por este caminho.

Cisne disse...

Obrigada ;)

O sonhador disse...

Eu sei que falar é fácil, ainda mais dito por certa pessoa mas... às vezes está mesmo à frente de nós e é só preciso mudar de lentes.
Ainda que seja alguém que te "virou" as costas, isso não muda o que desejo para t. Por ser esse alguém é que conheço a tua força, só tens de voltar a acreditar em ti. É um treino de resistência e dura toda a vida.

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