10 de abril de 2017

Pedir desculpa (pelo texto enorme que se segue...)


Estava aqui a tentar perceber qual é o problema das pessoas em aceitar pedidos de desculpa.

Pedir desculpa é péssimo, é horrível, entranha-nos no ego um veneno que só resfria ligeiramente quando ouvi-mos aquelas palavrinhas "não te preocupes com isso" ou "já passou, esquece isso" ou "tudo bem, tranquilo". E tira só um bocadinho do veneno porque sabemos que lá no fundo a pessoa continua magoada com o que dissemos/fizemos, mas que compreende de alguma forma a nossa ação e que o amor que nos tem é maior que o nosso erro.

Assim, estava aqui a pensar (muito furiosamente, devo dizer) porque é que raio é que quando alguém tem a valente coragem de descer lá de cima do pedestal do ego e dizer "desculpa, eu errei, estava errado" - porque na verdade é mais importante ser feliz do que ter razão -, outra pessoa há-de ignorar o pedido como se não valesse nada só porque está chateada??

Fogo... É intragável esse sabor. De termos descido e não termos ninguém para nos dar a mão. É por isto que as pessoas já não pedem desculpa. Por um lado não pedem porque sabem que as pessoas preferem ter rancor a compaixão , por outro porque sabem como é mais fácil manter o nosso orgulho lá no pedestal de «eu sabia que tinha razão, agora sofre», que admitir apenas humildemente que têm razão.

*                                                    *                                                          *


Foi isto que me aconteceu hoje. Tive uma discussão com uma amiga porque estava a tentar ajudar e ela considerou que eu estava a piorar a situação e eu, por minha vez, fiquei ofendida por ela considerar isso.

Por perceber o mal entendido e a minha parte de responsabilidade nele, pedi desculpa - esperando ouvir um "desculpa-me a mim também", admito, mas que se não viesse contentava-me com um "tudo bem" porque nem toda a gente consegue pedir desculpa. Mas fogo... não aceitar???

Ela tinha razão ninguém lha tira, eu não fui capaz de ver como o que eu disse a afectaria e fui em parte egoísta mas, gaita, eu também tinha - a verdade é que nunca fiz com má intenção e isso é fácil de ver!... Fico piursa...

Mas o pior foi quando conto à minha irmã (que é amiga de ambas) só viu a discussão do ponto de vista da amiga - but then again também sempre achei que foi assim durante a nossa infância, toda a gente tinha razão menos eu.

*                                                    *                                                          *

E como se toda esta história não bastasse acabo de me aperceber com este texto de onde vem a história de eu querer sempre ganhar uma discussão: porque cresci com a crença de que "toda a gente tinha razão menos eu". Great!

*                                                    *                                                          *

Fora isso, (dado que foi em parte esse o assunto discussão) é a preocupação em incluir o meu namorado nas coisas que faço com os meus amigos/família, pois ele inclui-me nos círculos dele. Não quer dizer que não tenha os jantares só dele, claro, mas eu sou frequentemente convidada. E tenho medo que "a minha parte fique para trás". É estúpido? Querer que ele crie ligações tão fortes com a minha família/amigos como as que eu JÁ criei com os dele? Se calhar é...até porque lá estou eu a competir outra vez...

É horrível ver tudo a acontecer outra vez como no meu primeiro "relacionamento sério" de 3 anos, em que eu passava muito mais tempo com a parte dele. Foi de tal forma que os amigos dele passaram a ser os meus e eu afastei-me dos meus de tal forma que quando acabámos eu não tinha ninguém. E quando digo ninguém, quero dizer ninguém. A minha família odiava-o portanto por mais que não me apetecesse ser consolada por alguém que falasse bem dele também não queria que falassem mal... Enfim. Péssimas memórias que vêm à superfície muito facilmente.

Pedir desculpa para mim é necessário e é um acto de humildade e coragem. Posso não conseguir fazê-lo na altura mas apenas porque ainda não tenho a distanciação necessária para perceber onde eu estava errada (para não falar de que ainda estou no marranço da competição!)

Fico triste quando uma discussão se gera por minha responsabilidade. O meu "eu inseguro" vem com a força toda dizer-me o quão culpada eu me devia estar a sentir e no quão burra, feia, parva, egoísta fui ao dizer ou fazer o que fiz. Fico triste não só pelo que aconteceu, mas ainda por perceber que a evolução que fiz na minha espiritualidade é ainda tão precoce, é ainda tão incompleta, é ainda tão...frágil.

Cisne

2 comentários:

AvoGi disse...

Tão difícil pedir como aceitar.
Kis :=}

Cisne disse...

Fair enough :)

Envelhecer

 Tenho 29 anos. Para alguns sou nova, para outros sou muito nova, para outros "já ninguém tem 20's"... Estava aqui a tentar le...