23 de novembro de 2017

Quando a Depressão "acaba"


Vou ser bruta sem querer:

A Depressão nunca "acaba". É como um trauma. Deixa sequelas, nem que seja o medo de lá voltarmos a cair. E quando ouvi a Pepper a falar dela sem a chamar pelo nome dela fiquei furiosa. Não com ela. Comigo. Por durante tempo ter falado dela como se fosse um "Voldemort" sem dizer o nome dela quase dizendo "aquela-que-tu-sabes-quem". E f***-**. Se há uma p*** que eu vou chamar pelo nome próprio depois de tudo o que ela me fez é a p*** da Depressão.

Partilho com os que me lêem o comentário que fiz no post da Pepper, na esperança de impedir que mais alguém caia nesta m**** de ideia de que temos "só uns dias maus", porque a sociedade não nos ensinou a cuidar da nossa saúde mental, da nossa alma.

"Sim, é bastante urgente que o faças (falar com alguém).

Isso é o início de uma depressão e se não for "enfrentada pelos cornos", vai piorar mais e mais. De alguém com experiência no assunto, que sofreu e agora é uma pessoa perfeitamente funcional (física, emocional e psicologicamente):

A primeira coisa que precisas de fazer é PARAR. É urgente parares de pensar que um dia vais acordar e sentir-te óptima apenas porque há dias em que te sentes melhor. As coisas só vão mudar quando tu aceitares que elas já mudaram.

Segundo: TUDO o que tu estás a sentir é válido. MAS tu não validas nem um desses sentimentos. Tu não aceitas ser insegura, nem medrosa. E isso é uma das origens da depressão porque estás constantemente a tentar ser alguém que não és, a fazer coisas que não queres de facto fazer.

Terceiro: Aceitar os tópicos anteriores.

Quarto: teres VÁRIAS conversas contigo própria, SEM pressões. Conversares contigo (de preferência em voz alta e com muita choradeira à mistura) sobre os teus medos, sobre aquilo que não queres fazer e perceber porque é que não queres fazer. E aí, EM VEZ DE te pressionares a fazer/ser essas coisas, vais simplesmente explicar a ti própria o quanto tu és capaz, o quanto és útil, o quanto és amada e apoiada (por ti própria e pelos outros), o quanto tu te queres ver bem e feliz e que te aceitas com todos os teus defeitos e qualidades.
Utiliza eventos passados de quando foste bem sucedida, do quanto o teu trabalho foi reconhecido, por mais antigas que sejam as memórias (podes até ir à escola pré-primário ou a um vídeo de ti a dar os primeiros passos ou a fazer gracinhas, qualquer coisa vale).

Quinto: Respirar fundo. Tudo irá correr bem. Se te respeitares (como o exigirias de outra pessoa, que não te obrigassem a fazer nada; como farias com uma criança - a que convencerias e explicarias porque é que ela tem de comer a sopa apesar de não gostar: apenas porque é bom para ela).

E repetir todo este processo, quantas vezes necessárias até ele ser um processo automático.

Por favor não esperes mais dia nenhum para começares a cuidar de ti.

Quanto mais esperas, quanto mais te negas a necessidade de cuidar do teu emocional (que adoece tanto quando o físico e com consequências tão graves quando não tratadas), mais fundo no poço entras. E mais difícil fica de sair. Há dias maus, sim, mas tu já passaste a linha dos dias maus. Há uma altura em que isso é só uma mentira da nossa mente, para não nos chatear durante mais um dia, para nos deixar trabalhar/estar bem até nos esquecermos.

Não ignores os sinais do teu corpo. Trabalha nisto agora, para poderes depois trabalhares no que realmente queres: a tua independência, ser a melhor mãe do mundo, ter um profissão que gostes...
TUDO está ao teu alcance. Mas não enquanto não aceitares: precisas de cura.

Espero que não leves a mal o meu comentário gigante mas este assunto toca-me muito por me ser tão próximo, por já ter passado por algo tão intenso e saber que eu fui a pior vilã para mim mesma. Por saber que assim que saí dessa posição comecei a melhorar.
Beijinhos. Não estás sozinha."

Cisne

5 comentários:

Rita C. disse...

Nunca tive nessa situação, felizmente. Tenho fases menos boas, em que ando triste e desmotivada com tudo mas ainda não cheguei a esse ponto,e ainda bem. Mas é verdade o que aqui dizes. :) Espero que estejas melhor!

Anónimo disse...

Gostei muito do teu comentário, da forma como me quiseste alertar, pois sei bem que uma depressão não é brincadeira, a minha mãe teve uma e eu vi os efeitos que isso teve nela. Quanto a mim, talvez tenhas razão, talvez seja o inicio de uma, ou não, sinceramente não sei. Quando fiz aquele post estava realmente mal, por diversas coisas, mas também tem alturas que estou bem. De qualquer forma concordo contigo, falar é sempre o melhor.

Cisne disse...

Rita c. Fico feliz que não tenhas tido a infelicidade ;) Sim, agora já estou óptima mas foram anos sombrios de muita luta e solidão..

Pepper: só quero que estejas bem. Se faz sentido o que escrevi óptimo, se não fizer é seguir em frente. Mas obrigada e força;)

Anónimo disse...

A depressão é um assunto bastante complicado :/

r: acho que é mesmo isso que vou fazer, e lá está, quem quiser realmente continuar a seguir o meu blog vai fazê-lo :)

Laura Póvoa disse...

Sandra A. A quem o dizes :p

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