17 de abril de 2009

Grupo III - O Sonho





Teria sido bastante improvável que palavras me magoassem, não fosse eu tão insensível. A verdade é que nunca estamos realmente preparados para desistir de um sonho, independentemente das vezes que no-lo recusem.

Num edifício antigo, nos arredores de Lisboa, a minha tranquilidade era pura e a minha segurança nata. Aqui, estava a preparar-me para, pela quarta vez consecutiva (a minha persistência era alimentada pela força da minha familia e um próprio sonho fútil), prestar provas ao Conservatório Nacional de Dança.

Esta seria a última vez que voltava àquele espaço que me "cuspia" para a rua, mas que eu tendia a encarar como um embalo. Portanto, o que eu sentia eram as paredes a apertar-me. O chão e o tecto uniam-se cada vez mais, a cada passo que eu dava em direcção àquela sala. Mas a pressão não me reprimia, dava-me força. Eu já sentira aquilo antes; não era nada que eu não conseguisse suportar; eu estava forte.

"Os números seguintes podem sair: (...)", assim o senhor com uma expressão firme o disse.

Foram sete pedras atiradas ao rosto, sete pedras atiradas às pernas. Estas não respondiam - quase como se quisessem ficar lá a provarem o que verdadeiramente valem. Já o rosto estava insensível; já não havia nada a fazer.

Eu saí sem dizer palavra e enquanto me vestia, esbocei involuntariamente um sorriso nervoso. Desci as escadas e já estava às gargalhadas. Meti um pé do lado de fora e tudo se transformou em água. O sorriso, o edifício altivo, a minha mãe e a minha irmã, as pedras da calçada que ia pisando pesarosamente... O Sonho.


(Num teste diagonóstico de português, eis que me visita a inspirãção. Bem-vinda! =)
Setembro 2008
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