16 de outubro de 2014

Oú t'es?


Nos dias maus, é fácil sentirmo-nos sozinhos. Ou que faz falta alguém que é a única pessoa que não está. Acho que no meu caso a pessoa que falta sou eu mesma. Acho que sim. Porque hoje cheguei a casa e, ao contrário do que sempre acontece, tinha a casa vazia. E soube bem. Não tinha vontade de chorar, não tinha vontade de dormir, não tinha vontade de comer, mas deu-me vontade de cozinhar. Comecei a mexer nos tachos, a sentir o cheiro a alho e comecei a sentir-me melhor.

Sinto que tudo está um caos. A minha casa, as coisas na faculdade, o trabalho... E eu principalmente. Hoje fui abaixo. Já há muito tempo que estava bem. Mas hoje não consegui sair da cama quando era suposto.

O despertador tocou e eu acordei levemente. Olhei para a janela, tudo meio escuro ainda lá fora, com bastante chuva e vento. Começo a pensar que tenho de me apressar, que com o tempo que está tenho de ir rapidamente para não me atrasar. Daí penso em tudo o que tenho de fazer antes de sair de casa e tudo o que tenho para fazer ao longo do dia. E sem me dar conta, à mesma velocidade que as preocupações surgiam, o coração também começa a bater cada vez mais depressa. E lá fui nisso. Continuei a planear e a planear e a planear e a preocupar-me mais e mais. Quando dei conta, tinha o dia todo planificado, o meu cérebro já a funcionar a toda a velocidade e o meu corpo...não. Ficava ali só. E eu cada vez mais atrasada. Deixei de me conseguir mexer na cama. Nem para a direita nem para a esquerda. Mexia a ponta dos pés, às vezes acontece, acho que inconscientemente dou a ordem às pontas dos pés para ter a certeza de que não fiquei paraplégica. Mas nada mais mexe, só dedos dos pés e olhos, que por essa altura já estavam completamente marejados de lágrimas. Respiro fundo, fecho os olhos, tento de novo, nada. Repito novamente toda a sequência, nada. Fecho os olhos e tento dormir, talvez a sonhar me mexa. Impossível adormecer com o meu cérebro a fazer 30 coreografias frenética e simultaneamente. E espero... Não faço ideia das horas que são mas sinto-as a passar. De repente veio-me o pensamento: esquece, vá já não a lado nenhum, já perdeste a hora, ao tempo que estás aqui. O corpo relaxa, adormeço. Acordo 2h mais tarde num pulo da cama com uma tontura horrível de me ter levantado tão depressa. E recordo o que aconteceu há duas horas atrás. Envio mensagem a quem deixei pendurado com a melhor desculpa de doença que pude inventar.

Depois disso é como se nada tivesse acontecido. Desde que eu não pense em tudo o que tenho para fazer e/ou que estou atrasada e/ou que tenho medo e/ou que é o meu dever...corre tudo bem.

Se não parece, acreditem-me: é frustrante. Principalmente para uma bailarina. Um ser treinado a obter respostas físicas precisas às ordens exactas que dá.

Mas por hoje já passou. E amanhã não acontecerá de  novo, se Deus quiser.


Cisne

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