30 de março de 2015

O último espectáculo


Hoje despedi-me pela primeira vez de um emprego.

Custou-me e pensei muito mesmo antes de tomar a decisão, mas agora que está tomada penso que só poderia ter tomado esta. Estou feliz com a minha decisão e atitude.

O problema é que também estou um bocadinho triste...ou nostálgica vá. Triste por não ter ficado até os espectáculos acabarem (final de Abril) e por estar a dificultar em muito o trabalho das pessoas que ainda ficaram lá à espera da resolução de problemas que já há muito deixaram de a ter.

Nostálgica porque...porque foi giro. Porque foi horrível no início e estava a ser horrível agora no fim mas o meio foi bom. E ok, estamos a falar de 2 meses de trabalho em 8 mas pronto... Foi uma experiência brutal. Em que muita gente me disse que eu me enquadrava no estilo e desempenhava muito bem o meu papel... pronto. E a verdade é que a rotina é uma coisa que a mim me faz bem. O ter horas para estar lá, as coreografias serem sempre iguais e estar sem grandes preocupações a nível do trabalho que eu faço... É claro, trabalhava todos os fins-de-semana, tinha só um dia de folga e mesmo esse era para ter aulas para mim, então não descansava, não podia estar com as pessoas porque ou eu ou elas estavam a trabalhar... Claro. Claro. Mas agora, à noite, descansada no meu sofá com o meu computador à frente, esqueço-me dos horrores que passei e lembro-me do que deixei para trás: todos os olhares cúmplices, dentro e fora de palco, as partidas uns aos outros, as piadas que só nós percebíamos, o poder estar em palco 6 vezes por semana, durante oito meses...

Eu não sei quando vou voltar a um palco... A verdade é que estou cheia de medo. Não sei quando vou voltar a dançar, não sei se vai demorar muito ou pouco e, pior, não sei sequer se vou voltar a estar em cima de um palco. E isso assusta-me. Muito. Porque tenho 21 anos e não quero que daqui para a frente a minha vida seja só dar aulas... Quero dançar, quero muito, sacrifiquei-me muito para agora me contentar com ensinar - que, atenção, é uma coisa que eu adoro fazer mas que é uma coisa que eu quero adorar fazer na altura em que estiver à procura de estabilidade na minha vida, não nesta fase.


E ok, dir-me-ão vocês que precisamente por ter 21 anos que muito me falta ainda fazer. Mas eu acredito que nós colhemos o que plantamos. E a partir de amanhã até dia 15 de Agosto eu vou estar a dar aulas sem qualquer possibilidade no meu horário de estar a fazer qualquer outra coisa. Para não falar que a directora da academia onde trabalho espera contar comigo para o ano lectivo 2015/2016...

Atenção!! Não me estou a queixar de ter trabalho! É claro que é óptimo ser tão nova e recém-licenciada e ter já trabalho! E quererem continuar a trabalhar comigo! Claro! Claro que é óptimo... Mas eu quero dançar...

É um vício tão grande como chocolate ou tabaco (suponho eu). Viciamo-nos na adrenalina, no som das palmas, no que as coreografias fazem à nossa cabeça e ao nosso corpo, naquele conflito de limites cabeça-corpo, na cumplicidade e contacto que desenvolvemos com os nossos colegas...e isto e mais, trabalho nenhum nos pode oferecer... Aquela confiança maluca de nos atirar-mos para um lift sem sabermos (por mais vezes que façamos) se nos vão apanhar ou não. Mas confiamos que sim. Sempre. Se nos perguntarem porque é que confiamos sempre, a nossa resposta vai ser: Porque tem de ser! Claro que tem de ser, mas isso não é resposta. A verdade é que não sabemos muito bem porquê e muito menos como. Como é que temos uma ciumeira desgraçada do namorado que na nossa cabeça olhou para a loiraça de saltos altos e olhos azuis, mas confiamos atirar o nosso rico corpinho (que nos proporciona aquilo a que chamamos «vida») cegamente num gajo com que ensaiámos meia dúzia de passos... A minha tia diria «crrrazy people...». Se calhar somos um pouco loucos... E viciados nessa loucura...



E este é o meu maior medo. De ficar sem aquilo de que mais gosto na vida: dançar.

Mas por hoje fica a nostalgia de tudo o que passei lá. Do bom e do mau. E fica o cansaço habitual do domingo à noite, o último dia dos extenuantes 5f, 6f, sábado e domingo do Teatro Maria Vitória - que me ficou a dever muito e a muitos níveis, mas a quem eu fiquei a dever um grande e muito sincero obrigado pela experiência.


Cisne

2 comentários:

Anónimo disse...

Luta pelos teus sonhos :)

Cisne disse...

Sure will. Obrigada pela visita ;)

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